Miguel Moreira, coordenador do Gabinete de estudos da JSD de Paços de Ferreira.
O sistema político tradicional tem sofrido algumas alterações de fundo, acima de tudo, no panorama europeu. Há uma infiltração grande de partidos de Extrema-direita e direita populista bem como uma grande ascensão de partidos denominados “verdes”. Por outro lado, após a “vaga” de partidos com ideologias da “nova esquerda” (que são uma continuação dos partidos comunistas, mas mais modernos), esses mesmos cimentaram a sua presença em muitos países, nomeadamente em Portugal. Houve, portanto, um abalar do sistema tradicional e, com isso, grandes partidos do “centrão” foram perdendo a sua força e ímpeto como por exemplo o Partido Socialista Francês ou o Forza Itália. Sistemas que não foram idealizados para o pós-segunda grande guerra. Tudo graças a ascensões de partidos que começaram a cativar o eleitorado com um discurso diferente. Portanto, um mundo de franjas.
A pandemia, por todos nós sentida, veio provar que só com governos não populistas, ou governos sem agregações populistas, é que se alcançam bons resultados e sucessos, mesmo quando o inimigo é atroz. Prova disto são os países que, apesar de tudo, melhor lidaram com a pandemia, como por exemplo a Alemanha ou a Nova Zelândia.
Por outro lado, viver num mundo de franjas, é viver com um constante medo. É viver sem a certeza de que as liberdades estão garantidas, é viver com o medo de não se saber se teremos economia, de não se saber se quem é diferente vai sofrer apenas por ser diferente. Viver neste tal mundo de franjas, é viver rodeado de debates fúteis que pouco contribuirão para tirarmos, por exemplo, Portugal da cauda da Europa; debates que não irão contribuir para saber se teremos melhores salários ou mesmo saber se um jovem terá um acesso ao primeiro emprego.
Ainda que o pluralismo seja determinante para uma democracia sólida, a importância que se atribuiu a partidos de índole populista apenas corrói a mesma e esvazia de ideias o debate público.
Vejamos o exemplo português destas presidenciais. A sensação com que fico, e muitos ficamos, é que só é bom e só é interessante aquele que fala mais alto. Aquele que manda uma ou outra piada nos debates, aquele que insulta com mais desdém. André Ventura insultou os adversários e rebaixou os mesmos. Logo a seguir há uma onda de apoio onde todos pintam os lábios. A nossa política chegou a este estado. Responsáveis? Todos os partidos de índole populista, que todas e as mais simples soluções têm para problemas de grande dimensão. Que nada mais têm para oferecer que não seja uma mão cheia de nada, um discurso sofista que muito cativa, mas nada se pratica.
É isto, o dom da oratória pode ser usado para dois fins possíveis: para o bem ou para o mal. Quando usado para fazer demagogia a probabilidade de acabar mal aumenta e bem. Tudo marcas do discurso populista quer da esquerda, quer da direita. Nestas eleições presidenciais, e respeitando todas as opiniões e ideologias, apelo ao voto nos candidatos que representam os espaços moderados do espectro político. Apelo ao voto naqueles que garantirão a ponderação nos atos das suas funções. Sociais-Democratas, Socialistas, Liberais e até mesmo sincréticos, todos têm candidatos moderados, com perfil presidencial e, acima de tudo, com um perfil que possa garantir a estabilidade que todos necessitamos.
É imperativo que não nos deixemos levar por ditos arautos da democracia e da Europa quando são membros de partidos eurocéticos, por ditos defensores da constituição quando não conseguem condenar autores das ditaduras do proletariado por esse mundo fora.
É hora de unir, colaborar por um projeto comum alicerçado no reformismo e que nos coloque na vanguarda. A política constrói-se com ideias, não com anátemas. Só com responsabilidade, moderação e ponderação se alcança a vanguarda.
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